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2022-08-29    IAOD

José Maria Pereira Coutinho

“A crónica falta de quartos para quarentena e o tratamento desumano para com os passageiros que regressam através do Aeroporto Internacional de Macau (AIM) que mais parece ser uma punição por terem saído de Macau”

 

Apesar da minha recente intervenção de 11 de Agosto de 2022, solicitando ao Governo, novas e urgentes medidas, relativamente ao processo burocrático de retenção dos passageiros, no AIM, após a sua chegada ao território, onde aguardam pelo alojamento nos hotéis de confinamento, com períodos de espera que variam entre as 10 e 12 horas, lamentavelmente mantêm-se inalteradas estas péssimas condições de recepção de passageiros, com as graves falhas de comunicação e ausência de decisores, mais parecendo estas medidas como “medidas punitivas por terem saído de Macau”.

 

Não obstante o anúncio, dos Serviços de Saúde, de medidas avulsas, prometendo celeridade no processo nos testes de ácido nucleico, após a chegada dos passageiros e na transferência de passageiros para hotéis de observação médica (quarentena), à medida que fossem saindo os resultados dos testes, visando a redução do tempo de espera dos passageiros, porém a realidade é bem outra, e até pelo contrário, mantiveram-se os inconvenientes, e em muitos casos agravaram-se os períodos de espera para a conclusão do processo e  mantendo-se a ausência de responsáveis para tomar decisões e dar informações correctas e precisas aos passageiros.

 

Para além do coro de críticas, divulgadas através das redes sociais, e veiculadas também nos órgãos de comunicação social, o nosso Gabinete de Atendimento aos Cidadãos continuou a receber um número assinalável de reclamações dos passageiros dos últimos dois voos que aterraram no território a 17 e 20 de Agosto.

 

As queixas apresentadas, para além das crónicas dificuldades na reserva de quartos para quarentena que por teimosia continua por resolver têm mais a ver com as condições desumanas que ocorrem após o desembarque dos passageiros, principalmente os idosos, as grávidas com filhos menores, e os deficientes que não têm qualquer apoio no transporte de pesadas bagagens, à falta de higiene nas casas de banho e a ausência de distanciamento social nas instalações de “penosa espera”.

 

O “calvário” inicia-se com a longa espera dos autocarros após aterragem do avião. Depois, os passageiros são transferidos para os autocarros, sem que sejam dadas prioridades aos idosos, deficientes, as grávidas com filhos menores onde demora uma “eternidade” na execução dos testes de ácido nucleico. O sofrimento dos passageiros estende-se à falta de apoios, principalmente apoios aos idosos que são obrigados a “arrastar” as pesadas bagagens do armazém dentro do aeroporto para os autocarros e posteriormente para Pak On e de seguida para o hotel e alguns idosos com netos de menor idade sem alguém do AIM para os poder ajudar.

 

Na “sala de espera” continua a reinar uma enorme confusão à espera dos resultados dos testes. Os “coitados dos seguranças”, bem esforçaram para esclarecer, informar e responder às perguntas para além das suas funções e responsabilidades como seguranças do aeroporto. No meio disso tudo, temos o “calvário da burocracia” que contribuiu sobremaneira para o aumento de tempo de espera, a falta de informação e de coordenação logística do processo.

 

Vejamos a queixa que recebemos do voo do dia 20 do corrente que à chegada ao AIM o residente testou positivo ao Covid19. O residente viajou com duas filhas menores (uma de 17 anos e a outra de 9 anos), mas ambas acusaram teste negativo ao Covid19. Este residente, apesar de ter feito reserva para dois quartos separados, foi “forçado” a ficar alojado com as suas duas filhas num quarto de reduzidas dimensões, acabando por infectar as suas próprias filhas. Incidente lamentável e sem que alguém tenha de assumir responsabilidades.

 

Apesar destes assuntos já terem sido abordado por diversas vezes, no passado, mantém-se a intransigência na interpretação das medidas de confinamento, que obrigam a que filhos menores estejam na companhia dos pais, ou tutores, independentemente do resultado dos testes. A legislação, e as medidas sanitárias, terão que ser revistas para contemplar as excepções necessárias a estas situações.   

 

Classificar de vergonhosa esta recepção aos passageiros no Aeroporto Internacional de Macau é um eufemismo. Esta é uma situação inqualificável, insustentável e repugnante.

 

Será que, em consciência, qualquer titular de um principal cargo público da RAEM, se sujeitaria a este tipo de tratamento no seu regresso a Macau?

 

Sugeri anteriormente, a eliminação da burocracia administrativa na retenção dos passageiros no AIM. Não se compreende que com os avanços tecnológicos introduzidos na informatização e recepção antecipada da listagem de passageiros e nos processos de recolha e tratamento de dados, implementados em diversos canais, e suportados por inúmeras aplicações e ferramentas, pelos serviços públicos,  articulados à governação electrónica promovida pelo Governo, se continue a exigir aos passageiros que chegam ao território, nomeadamente aos residentes de Macau, o preenchimento de “papelada” e mais “papelada” cujos dados se encontram disponibilizadas, e armazenadas, na base de dados dos diversos serviços. Isto denota a continuação de grave falta de coordenação e de partilha de dados e de informação, entre os diversos Serviços Públicos. Tudo isto, podia ser simplesmente resolvido com o preenchimento de informações por via electrónica.

 

Tendo em consideração a taxa elevada de vacinação na RAEM, defendi que fosse substituído o isolamento obrigatório em hotéis, por quarentenas domiciliárias, porquanto as autoridades responsáveis têm aludido “à falta de pessoal suficiente (em sistemas sanitários fechados) para executar todas as medidas necessárias nas chegadas dos viajantes. Esta sugestão, para além de ter um impacto positivo nos potenciais futuros visitantes do território, com óbvios benefícios para a economia local, resolveria também o problema da ausência de instalações para internamento de passageiros infectados, que obriga as autoridades a optarem por soluções insatisfatórias, tais como o alojamento de passageiros assintomáticos e/ou infectados em hotéis de observação médica, aumentando o risco de contágio dos funcionários e auxiliares nesses locais. 

 

Macau tem que voltar a funcionar com normalidade. Tendo em consideração os índices de vacinação da população e no Mundo, e a evolução favorável da pandemia, permitem perspectivar que o vírus continue evoluindo, embora em gravidade reduzida, à medida que a imunidade aumenta devido à vacinação.

 

Como tenho referido, o território deve implementar um plano de convivência com a COVID-19 e impulsionar a recuperação da economia, tanto na indústria do jogo, como em relação às pequenas e médias empresas e principalmente a restauração com o objectivo de atrair turistas para a indústria de convenções e exposições, sob pena de sacrificar a confiança de investimento no território, aumento do desemprego e suicídios.

 

Finalmente e para que Macau mantenha a sua competitividade, é necessário que nos empenhemos na implementação de medidas mais arrojadas de reforma e reforço das funcionalidades do território incluindo o AIM diversificando a gestão das rotas aéreas, aumento de pistas e respectivas instalações e incremento das ligações terrestres e marítimas com RAEHK.

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