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 INTERVENÇÃO ANTES DA ORDEM DO DIA

 

As Comunicações Oficiais em situações de crise, como os desastres (naturais ou humanos) ou as recentes tristes notícias da versão oficial de presumíveis suicídios de um titular de principal cargo da RAEM e do trabalhador do CCAC exigem-se especiais capacidades de liderança do dirigente máximo da RAEM e seus principais colaboradores Os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais demonstraram nervosismo, falta de preparação e de planeamento nas comunicações, a pretensa ocultação e atraso na divulgação atempada da notícia, tanto na conferência de imprensa, como nas subsequentes explicações oficiais relativas ao presumível suicídio do titular de principal cargo da RAEM. Foi claro, o erro na percepção da forma como a notícia foi divulgada, gerando desconfiança e subsequente descrédito por parte da maioria dos meios de comunicação social locais e estrangeiros e do público em geral. 

A triste notícia colheu de surpresa os cidadãos que esperavam tudo menos esta inesperada notícia. Assim sendo, é normal, que tanto os meios de comunicação social como o público em geral tenham a ânsia e a pressa em obter informações que pudessem explicar com a mínima razoabilidade aquilo que tinha acontecido e não a subtracção e atraso na divulgação da notícia do suposto suicídio e a subsequente imposição ilógica e irracional dos resultados como facto consumado em que quase ninguém acreditou na versão oficial. De referir que este suicídio vem na sequência de um outro suicídio ocorrido nas instalações do Comissariado Contra a Corrupção cujos motivos continuam por ser explicados.

Em situações de crise e ocorrência de notícias tristes como estas, os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais deviam ter uma noção clara do que se pretendia com as Comunicação Oficiais na situação específica de estarmos perante uma notícia de importância relevante para a maioria dos cidadãos e dos meios de comunicação locais e estrangeiros.

O dirigente máximo tem de assumir a tarefa de decidir quais os responsáveis pelas comunicações oficiais, o “timing” da divulgação, como divulgar a notícia, onde divulgar, divulgar para quem, e porque divulgar.

Os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais deviam estar mais bem preparados com planos de comunicação e recursos à disposição para ajudar a minimizar as dificuldades inerentes à comunicação tomadas no momento. O líder terá de prever as repercussões e impacto social da triste notícia e prever de antemão as perguntas que comunidade tem e da qual esperam respostas. Para que a comunicação seja eficaz exige-se um bom planeamento da forma como a mesma deveria ser conduzida a comunicação oficial.

São vários os erros que foram detectados nas Comunicações Oficiais relativas à notícia do presumível suicídio de um titular de principal cargo da RAEM.

1. Simultânea apresentação das razões da morte por diferentes intervenientes com mistura de informações de diferentes áreas de especialidade criminal e médica forense quando a explanação deveria ser sólida, uniformizada e bem preparada.

2. Divulgação tardia do suposto suicídio aos meios de comunicação social e subsequentemente do público em geral, transpirando a sensação de querer tentar atrasar o máximo possível, quando a notícia da ocorrência deveria ter sido comunicada em simultâneo aos órgãos de policiais e meios de comunicação social evitando tratamento diferenciado.

3. Os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais adoptaram uma atitude arrogante e pouco convincente de cariz paternalista com imposição de justificações dando o suicídio como facto consumado, quando na altura deveriam cingir-se no exprimir de dor e simpatia para com a falecida e respectiva família.

4. Falta de consciência na previsão das reacções dos meios de comunicação social quer locais quer estrangeiros e do público em geral quanto à razoabilidade sequencial e ilógica da morte, da forma como foi oficialmente explicado, originando elevado número de rumores e explicações que persistem ainda hoje. São nestas circunstâncias de crise que os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais deveriam demonstrar as qualidades de honestidade e abertura da informação evitando o escoamento da mesma como extracção de informação via “pasta dentífera”. A competência e qualidades profissionais são no momento cruciais para uma recepção convincente de quem esta a ouvir e por parte dos meios de comunicação social. 

As Comunicações Oficiais são sempre processos que englobam os governantes, os meios de comunicação social e a sociedade civil criando um espaço de debate e tomada de decisões relativas à vida pública.

As Comunicações Oficiais em situações de crise e destas como as do suicídio são situações muito diferentes das normais comunicações oficiais. Os cidadãos afectados emocionalmente pelos suicídios recebem as informações por diversas vias e têm reacções diferentes, uma das outras, porque o processo de recepção da informação funciona e reage de forma diferente consoante a pessoa.

Os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais deviam perceber que as formas normais de comunicação que outrora vinham sendo utilizadas podem não ser as mais apropriadas, correctas e efectivas numa crise como esta de tentar explicar um suicídio de um titular de principal cargo. Os meios de comunicação social e o público em geral querem saber o que sabem os líderes responsáveis pelas comunicações oficiais e as mesmas devem ser ditas de uma forma atempada, honesta, não discriminatória, razoável e transparente.

O certo é que estes presumíveis suicídios vão continuar a ser assuntos de interesse e discussão na sociedade. Como afirmou um famoso cantor sul-americano “Não viveram para que a sua presença fosse notada, mas a sua falta será sempre sentida e discutida na sociedade”

Muito obrigado!

 

O Deputado à Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau aos 12 de Novembro de 2015.

 

José Pereira Coutinho

 

 

 

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